quarta-feira, 30 de junho de 2010

Restaurante Universitário e Moradia: para além da política de permanência estudantil

Quando falamos em Restaurante Universitário(R.U.) e Moradia, quase que instantaneamente fazemos o seguinte raciocínio: esses dois aparatos servem para garantir, respectivamente, refeições mais baratas e locais para residir durante o período de duração do curso. Esses recursos visam atender principalmente os alunos menos favorecidos, sem condições de pagar os altíssimos valores tanto da comida como dos aluguéis em Bauru.

Concordo plenamente com esse raciocínio que logo nos vêm à cabeça. Mas gostaria de considerar alguns outros aspectos não tão óbvios que implicam da existência do R.U. e da Moradia.

Em primeiro lugar: um campus universitário que conta com essas duas políticas de permanência estudantil seleciona, antes mesmo do vestibular, parte do público que possa ingressar nessa instituição. Exemplifico: se você é uma pessoa com poucas condições financeiras para se manter na Universidade, para morar fora de casa e assumir os diversos custos que isso acarreta, você vai dar prioridade para um campus que tenha Moradia e R.U., certo? Tendo isso claro, podemos dizer que o campus da Unesp Bauru não atrai para cá (ou atrai muito pouco) esse público sócio-econômico desfavorecido.

Em segundo lugar: com R.U. e Moradia a vida universitária “ganha vida”. Não estamos lá muito acostumados a passar o dia todo no campus, salvo o pessoal dos cursos integrais (e olhe lá!). Por quê? São vários os motivos. Um deles é o alto custo da alimentação no restaurante terceirizado e por servirem apenas almoço. Já ouvi de diversas pessoas que dizem não ficar mais tempo na universidade, em grupos de estudos, de pesquisa e extensão, em atividades culturais, do movimento estudantil etc, por terem que gastar na cantina com um salgado, já que o restaurante não oferece janta e o preço desse ser “salgado”, além do que, em pouco tempo você vai ter fome de novo.

No caso da Moradia também é semelhante. Como a mesma fica dentro do campus, o número de alunos que permanece nele é maior. Com mais pessoas sem ter de voltar para suas casas - longe do campus e perdendo tempo se deslocando - a possibilidade desse pessoal da Moradia participar de atividades no campus também aumenta.

Uma terceira consideração que faço é especificamente em relação ao R.U. Nesse espaço pode-se ter um contato maior entre alunos, professores e funcionários. Em Bauru, somos colocados em “guetos”: aqui fica a galera da FAAC, ali os alunos da FEB e lá os da FC. Acaba-se criando e favorecendo discriminação e atritos desnecessários. Somos todos estudantes! Não temos hoje no nosso campus essa dinâmica. Os professores e funcionários nos parecem estranhos, não vivemos condições que possibilitem uma maior interação, conversas, bate-papos. O R.U. pode garantir isso. Tendo mais contato, consequentemente saberemos mais da realidade uns dos outros. E vamos perceber o que “o meu problema” também é o mesmo problema do outro. E aí está o “pulo do gato”: reunidos em um mesmo lugar, trocando experiências e vivências, sabendo da realidade dos estudantes, é que podemos nos aglutinar, movimentar, concentrar esforços em busca da resolução dos nossos cotidianos problemas universitários.

Indo ainda nesse sentido, vou fazer o mesmo movimento, falando especificamente agora da Moradia: a moradia é mais do que apenas um lugar onde se moram estudantes desfavorecidos financeiramente. Historicamente as moradias universitárias foram foco de mobilização dos estudantes. Ainda hoje temos essa experiência, em outros campi da Unesp, por exemplo. A Moradia é um espaço dos estudantes, em que eles têm uma autonomia que não é vista em outros espaços da Universidade. Muitas assembléias estudantis e reuniões de Centros e Diretórios Acadêmicos se faz nas Moradias.

Agora, caros colegas, eu vos pergunto: por quê o nosso campus, o maior de todas as unidades da Unesp, ainda hoje, passados mais de 20 anos da criação dessa Universidade, ainda não tem R.U. e Moradia? Porque os diretores e gestores são malvados e não gostam da gente? Não diria nesses termos. O que eu sei é: que estudante reunido, passando tempo além do tempo-em-sala-de-aula dentro do campus, se movimentando, se organizando, participando ativamente da vida universitária, esse estudante incomoda. Incomoda a direção porque esse estudante em movimento vai descobrir aquilo que o campus lhe possibilita e aquilo que não promove; vai ver que suas liberdades democráticas não são tão democráticas assim e também não são respeitadas; vai perceber que seus anseios não são respeitados nas decisões nos diversos órgãos que o dizem representar; vai ver uma outra realidade que tentam lhe ocultar ao máximo, usando dos mais diversos mecanismos para isso. Não fica óbvio o porquê de ainda não termos nenhum dos dois aqui em Bauru? Não nos querem organizados. Representamos perigo para a ordem em que se encontram as coisas. Querem manter seus privilégios.

Faço agora uma ressalva: por conta disso digo que precisamos continuar pressionando e exigindo que a Moradia e o R.U. comecem a ser construídos ainda esse ano! É promessa do Reitor e dos diretores de Bauru. Não sosseguemos e achemos que está tudo conquistado. Já nos passaram pra trás muitas vezes, e pode ser que nos queiram fazer novamente o mesmo. Não deixemos! Até a faixa inaugural ser cortada, ainda tem muita luta e cobrança!!!

Espero ter sido claro nos meus apontamentos e discorrido sobre as diversas implicações que o R.U. e a Moradia estudantil podem ter. Não tive a intenção de esgotar o assunto, e nem acho que são apenas essas as implicações do R.U. e Moradia; foram apenas algumas que eu consegui pensar e falar a respeito. Por isso do título deste texto: Restaurante Unviersitário e Moradia: para além da política de permanência estudantil. Eles vão além de garantir comida mais barata e lugar pra se morar! Espero realmente ter me feito compreender.

Um comentário:

Edson BR disse...

Os estudantes da UNIFESP-Campos Baixada Santista, em luta pela expansão das universidades públicas com qualidade, defendemos a criação de Restaurante Universitário - acrescentando que esse deve ser gerido pela universidade, entendendo a terceirização como forma de violar direitos e precarizar a vida do trabalhador – e também por moradia estudantil. Na nossa última paralisação, dias seis, sete e oito de outubro de 2010, reunidos em longas assembleias, pudemos vivenciar a importância do convívio e de um espaço de convívio intensificado, como os que estão no texto que aqui comento.