sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Delfim e Haddad, iguais não só em gestos!

Delfim e Haddad, iguais não só em gestos!

Os jovens não se lembram mais de Delfim Neto. Ele foi um homem poderoso no período do regime militar. Chegou a ser uma espécie de super-ministro. Apesar de nunca ter estado no ministério da Educação, ocupou várias outras pastas e chegou a influenciar diretamente a política educacional. Em especial, deu rumo para a política de expansão do ensino superior do regime militar.

Quando um jovem quer compreender quem foi Delfim Neto na educação, o melhor modo é mostrar para ele a atuação de Fernando Haddad, o atual ministro da Educação. Não se trata de igualdade, claro, mas a semelhança é espantosa. Delfim e Haddad compartilham do mesmo pensamento: o ensino superior dos ricos deve ser feito na universidade pública, gratuita, estatal, voltada para a pesquisa, enquanto que o ensino superior “de massa” deve ocupar outro lugar. Este outro lugar, para Delfim, eram as universidades particulares, que ele facilitou ao máximo o crescimento, coisa que Haddad também vem fazendo. Aliás, Fernando copia até mesmo a estratégia de Delfim: grita na imprensa contra elas, enquanto, na prática, gera projetos de facilitação do não pagamento de impostos desses conglomerados pouco voltados verdadeiramente à educação.

Delfim entendia que cursos de pedagogia, administração, ciências contábeis e algumas licenciaturas eram “cursos pobres para pobres”, isto é, cursos que, na visão dele (e, atualmente, na visão do governista Renato Janine Ribeiro), poderiam ser abertos sem qualquer custo. Para estes cursos, em faculdades particulares de péssima condição, iria a massa de trabalhadores. Ganhariam um diploma de ensino superior. Com isso, as estatísticas do país melhorariam e, então, ele próprio, Delfim, poderia continuar vendendo lá fora o “milagre brasileiro”. De bandeja, dava o populismo ao presidente, que poderia dizer coisas como “no meu governo os pobres conseguiram estudar em faculdades”.

Caso Haddad vivesse no tempo de Delfim, faria a mesma coisa. Todavia, Haddad tem mais instrumentos que Delfim. Ele tem algo que é uma completa falcatrua, chamada Universidade Aberta do Brasil (UAB). Não contente com esse fantasma de EAD, ele incentiva toda e qualquer faculdade a implantar o Ensino a Distância – exatamente para os “cursos de pobres”. Delfim Neto deve pensar, hoje em dia: “puxa, que sorte tem esse menino, o Fernando Haddad, que pode chamar esses cursos de Ensino a Distância, um nome bonito, e eu que fiquei com a desgraça de ter usado o nome feio, “ensino de lousa, giz e cuspe”. É a mesma coisa.

A idéia básica de Delfim e Haddad é a mesma de sempre, a que nunca saiu da cabeça de nossa elite carcomida: ainda que se venha a dar algo ao trabalhador e ao pobre, e ainda que este algo venha de um bom lugar, e seja próprio do rico, para o pobre ele será oferecido de modo pobre. Sim, salvo o Mackenzie e algumas PUCs, que universidade particular pode se igualar às federais e a uma USP? Nenhuma. O estado tem um ensino superior melhor que o particular. Então, a idéia de democratizar o ensino estatal, tornando-o acessível ao pobre e ao trabalhador, é exatamente esta: que se faça na forma de EAD. Ora, então o EAD é ensino ruim? Não necessariamente, enquanto apoio `a educação. Só que, o que é o EAD brasileiro? O EAD brasileiro e governamental é a versão Haddad do “lousa, giz e cuspe” de Delfim.

Não estou dizendo – insisto nisso – que o EAD é ruim em si. O que estou dizendo é que o modo como o Brasil trata o EAD, é para que esta fórmula seja dirigida aos pobres e trabalhadores. Ele é dirigido ao pobre de modo pobre, pois é preenchido por “cursos de pobres”.

Já definido pelo mercado, pela sociedade e, enfim, pelo governo, como uma forma de supletivo do ensino superior, o EAD nasce sem chances de ser outra coisa senão isso mesmo. Uma maneira de dar o título ao professor que, sem parar de trabalhar, vai fingir que estuda e, então, receber um diploma que lhe falta. Assim, uma vez posto como algo para a clientela que deve consumir o “curso de pobre”, todas as instituições brasileiras passam a vê-lo assim e, é claro, o próprio MEC.

O cuidado com o sistema de EAD, por si mesmo, já se torna algo carente. Há a contratação de monitores, não de professores titulados, para fazer a maquinaria andar. Além disso, imagina-se que é possível, sem a convivência social, gerar um profissional de nível universitário. Mas, no fundo, o que se pensa é o seguinte: “ora, não estamos mesmo fornecendo medicina em EAD, é só pedagogia mesmo”. É isso que eles pensam. Ou seja, o professor é alguém que, por definição, vai ter um curso que não vale muita coisa.

Na prática, Haddad é o netinho de Delfim, que faz com que cada um de nós nunca se esqueça do regime militar, e assim proporciona a cada jovem um conhecimento do que se fez em termos de política educacional naquela época. Bom, se descuidar, Haddad ainda vai dizer que ele, por causa disso, proporcionou um aprendizado aos pedagogos jovens, deu uma lição de história da educação. Sim, se descuidar ele diz isso, pois ele diz qualquer coisa.

© Paulo Ghiraldelli Jr. , filósofo

São Paulo, 8 de setembro de 2009
Fonte: http://ghiraldelli.pro.br/2009/09/mec/

Um comentário:

Blog do Caco disse...

Galera, coloquei no blog do CACOFF, isso ta rolando aqui do lado de Bauru, é importante passarmos para frente, publiquem na pagina principla se puderem!

Abraço,

Marco

MST ocupa fazendo grilada pela Cutrale
A grande imprensa no último dia 05 de outubro alardeou a “invasão” de terra provocada por integrantes do MST. Em voos razantes a PM captou imagens de um trator cortanto pés de laranja. Como é de costume, a mídia apresenta os fatos sem uma necessária contextualização do problema com o intuito claro de colocar a opinião pública contra os movimentos sociais. Esses movimentos lutam pelo real desenvolvimento social do país frente ao grande crescimento econômico que aquece a conta corrente daqueles que estão no topo da escala social.

A região mostrada na imprensa, Aras, Agudos, Borebi, no centro-oeste do Estado de São Paulo, onde hoje a empresa Cutrale tem imensas plantações de laranja, tem sua história abafada pelos interesses dos grandes latifundiários brasileiros. Vamos a ela então.

No início do século XX o Governo Federal destinou naquela região mais de 50 mil hectares para a colonização italiana. No entanto, isso não foi possível pois os fazendeiros do café entendiam que essas terras para colonização italiana diminuiriam a oferta de trabalho barato nas plantações de café, e como é de costume, impediram que essas terras fossem destinadas para o fim proposto.

Com o passar do tempo esses 50 mil hectares foram sendo grilados por grandes empresas, principalmente madeireiras. Um pouco mais recente é a entrada da Cutrale nessa região através de terras griladas. Hoje a Cutrale mantém ali uma plantação de cerca de 4 mil hectares apenas de laranja. Só a título de exemplo, com esse número mais de 130 famílias poderiam estar assentadas e plantando alimentos necessários para a alimentação da população, já que não só de laranja vive o homem.

Essas terras da região centro-oeste são uma reinvidicação de mais de 15 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra para que ela seja destinada a reforma agrária e contribua para a melhora do quadro social do país. Segundo o INCRA, orgão governamental que regula a reforma agrária, a invasão da Cutrale é ilegal e as terras deveriam ser devolvidas ao governo federal.

Mais de 350 famílias ocupam essas terras como forma de pressão para que as terras do governo sejam destinadas à reforma agrária. Parece inconcebível que uma mega empresa, através de meios obscuros como é a grilagem, explore a terra apenas para lucro próprio sem ter pago nenhum centavo, enquanto milhares de famílias continuam na luta por um pedaço de terra agricultável.

Na região de Borebi alguns pés de laranja, entre os 4 mil hectares plantados, foram derrubados para que arroz, feijão, milho, batata pudessem ser plantados. Não nos esqueçamos nunca que a reforma agrária é imprescindível para a construção de um país realmente justo, democrático e menos desigual.

Enquanto o Brasil continuar com uma ditribuição fundiária quase feudal, os números midiáticos continuarão nos falando lindas mentiras e a realidade, duras verdades.

Lembrando de João Cabral de Melo Neto, pergunto: qual será a parte que cabe ao povo neste latifúndio chamado Brasil?